Finalmente ia ter um fim-de-semana de dois dias, em dois anos que cá estou não me lembro de isso acontecer. Feriado do dia da mulher no domingo, e como estamos em Angola passa o feriado para segunda-feira. Fui ao Google Earth no sábado escolher um destino para a nossa viagem: MALANJE.
Arrancámos no domingo às 05:00 da manhã, fui a maneira de não apanharmos trânsito e começar logo a stressar de manhã, eu e o Paulo numa carrinha e o Miguel Marques e o Pedro Beca noutra. Enchemos o depósito (1500 akz = 15 euros = 50 litros) e seguimos viagem.
Ao longo do caminho vêem-se muitas aldeias junto a estrada com estas armadilhar para apanhar a mosca de Tsé-Tsé (mosca do sono). Estamos a atravessar a zona delas e como as nossas carrinhas são azuis, é melhor ter cuidado… não sei porquê mas a mosca é atraída pelo azul.
Chegámos ao Dondo, esperava ver uma cidade maior e mais evoluída.
Parámos nas margens do rio Kwanza para esticar um pouco as pernas e comer qualquer coisa, veio logo um puto ter connosco para lavar as carrinhas: “Dá 50 kwanzas, vou lavar”. Em Luanda os putos pedem mais de 800 akz…
Seguimos viagem em direcção a N’Dalatando, atravessámos o Morro do Binda, uma zona de montanha com a estrada a acompanhar o relevo acentuado, o que dificulta e muito a tarefa dos camiões. A paisagem vale a pena: vegetação bastante densa com árvores enormes que impedem a entrada do sol, e o barulho de inúmeros animais a “falarem” cada um para o seu lado torna aqueles 20 km fascinantes.
Atravessamos N’Dalatando sem parar. Capital da provincia do Kuanza Norte, chamada Salazar no tempo colonial ainda preserva, na estrada principal, alguns dos edificios desse tempo, tudo o resto é musseque. Cerca de 90% da cidade são casas de barro com telhado de zinco ou colmo, mas tudo com um aspecto limpo.
Ainda nos faltavam cerca de 40 km para chegar e já era possivel avistar o nosso proximo destino: as Pedras Negras de Pungo Andongo. são rochas enormes que aparecem repentinamente num terreno plano.
Diz-se que há alguns séculos atrás, no tempo da rainha Ginga M’bandi existia no meio das pedras um coliseu de torturas e divertimento da rainha. Hoje restam algumas construções do tempo colonial.
Ainda tentamos ir a barragem de capanda que fica a cerca de 10 minutos dali mas, como diria um amigo meu “fomos barrelas”, não nos deixaram passar de um certo km da estrada, só com uma autorização especial do Gamek, que nós não tínhamos… seguimos em direcção a Malange.
Chegamos a Malange por volta das 15:30. É uma das maiores cidades de Angola e está no bom caminho para o desenvolvimento.
Encontram-se bastantes hotéis com muito bom aspecto. E eu entrei em todos para tentar arranjar um quarto para passar a noite, mas obtive sempre a mesma resposta: “pedimos muita desculpa mas não temos quartos vagos”. Parece que toda a gente aproveitou o fim-de-semana prolongado para ir até Malange. A coisa estava a tornar-se complicada, sem sítio para dormir e ainda por cima a nossa carrinha tinha ficado sem travões… aquela hora e num domingo era difícil encontrar alguém que nos desenrascasse. Conseguimos arranjar um frasco de óleo para travões numas pequenas bombas da Sonangol e o assunto ficou mais ou menos resolvido, pelo menos dava para andar… e travar! Mas aquela hora já não íamos voltar para Luanda, estávamos demasiado cansados para o fazer. Fomos jantar ao “Marco”, beber um copo ao “Triângulo” e acabámos por ficar por lá.
Tivemos de dormir na carrinha. Paramos em frente à emissora nacional e descansamos até nascerem os primeiros raios de sol.
Eu acordei com uma vontade enorme de me fazer à estrada. Apanhamos a estrada principal até ao primeiro posto de controlo da policia, ai viramos à direita para uma picada que estava a começar a ser arranjada pelos chineses, mas que ainda está em muito mau estado. Foram 60 km de terra batida e muitos buracos que nos levaram até Calandula, mas com uma das paisagens mais bonitas que já alguma vez vi… a quantidade de tons de verde a contrastar com aquela estrada de terra vermelha é simplesmente fantástico. Vêem-se dezenas de pequenas aldeias à beira da estrada com casas de barro e tecto de colmo onde as pessoas vivem numa tranquilidade de meter inveja. Sempre que parávamos para tirar fotos as pessoas diziam adeus e vinha-nos pedir para tirar fotos com elas, bastante humildes e hospitaleiras.
Sem qualquer dúvida que tudo de bom que se ouve falar do povo angolano não é daqueles que se amontoam em Luanda, mas sim das pessoas que resistiram aos difíceis anos de guerra e ficaram nas províncias.
Depois de uma hora e tal de viagem chegámos a Calandula, a beleza daquelas cascatas é enorme. Não vale a pena dizer mais nada, as fotos dizem tudo…
Tomamos um banho no rio, comemos qualquer coisa e voltámos em direcção a Luanda, só parámos no Dondo para hidratar com uma EKA bem fresquinha…
Valeu a pena esta viagem, finalmente deu para conhecer um bocadinho de Angola, espero ter muitas mais oportunidades destas…
Até à próxima!